segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Nos APs

Eu morava num destes conjuntos habitacionais novos, coisas do PAC, e tal. Eram uns prédios MUITO vagabundos, mas eram melhores do que a favela.

Os blocos eram coladinhos uns nos outros, uma merda (mas, repito, eram melhores do que a favela). E foi assim que eu conheci a -----------.

Porque pobre cisma de botar esse tipo de nome? Será que eles entenderam mal o sentido de 'perpetuação da espécie'?

Mas, então, a ----------- morava no apartamento em frente ao meu. Repito, os apartamentos eram umas merdas, mas era melhores do que a favela. Até porque, lá na favela, ela morava do outro lado, a gente entrava e saía da comunidade por lugares diferentes. Não temos NADA a ver com o outro. A gente nunca ia se encontrar. E eu nunca ia comer a -----------!

Mas, então, cá, nos prédios colados, a gente morava de frente, um pro outro e a distância entre as janelas é coisa de... 3 metros, se tanto. Quase dava pra ela e eu quase segurarmos a mão um do outro, cada um em seu apartamento, de tão junto que era.

Lembro como se tivesse sido agora: era um domingo de tarde, tava no intervalo do jogo e eu fui fumar um cigarro na janela.

De lá de casa, a vista da janela, é a sala dela, né? Então, quando cheguei na janela a única coisa que tinha para olhar era a TV da sala dela e ela assistindo o jogo, também.

A TV ficava de frente pra mim, e da mina eu só via a parte de trás do cabelo, preto, encaracolado. Ainda estava molhado, e parecia que ela recém tinha saído do banho.

Era tão perto que eu conseguia sentir o cheiro do creme que ela usava no cabelo.

Era o cheiro ruim de creme barato para cabelo ruim, aquele com cheiro enjoativo, sabe? Pois é. Mas fiquei ali, detonando meu pulmão: cigarro, pó de cimento da obra, poluição do Rio e a química do cabelo dela.

Quando passava a reprise dos gols do primeiro tempo, eu vi que ela vibrou, como se o gol tivesse acontecido naquela hora. Ela era dessas. Burra demais, coitada. Mas era bonita!

Quando ela se deu conta de que tinha comemorado a reprise, olhou para trás, pela janela, para saber se alguém tinha visto o vexame. Eu tinha, e não consegui evitar o sorriso. Aparentemente um sorriso. Por dentro eu estava gargalhando. Ela retribuiu o sorriso e eu disse:

- Acontece!rs

Ela fez uma expressão de "comigo acontece tudo". E devia acontecer, mesmo. Perguntei:

- Onde você morava?

Foi então que ela disse o nome da área.

- Longe da minha casa - eu respondi.

Pode parecer que a gente estava, como pobres, gritando pela janela, mas não, a gente falava usando um tom de voz normal. E um ouvia o outro perfeitamente. Estou falando, os blocos era MUITO juntos. Mas, melhores do que a favela.

Daí a gente conversou um pouco. Bastante, na verdade. O jogo começou e eu continuei assistindo pela TV dela, enquanto ela estava ajoelhada no sofá, de costas para a TV e de frente para mim.

Eu perguntei se ela não queria descer, para a gente conversar melhor. Ela disse que daquele jeito estava bom. Foi minha primeira lata [N.T.: recusa amorosa]. Tomei várias dela.

No fim do jogo ela recebeu um telefonema e paramos de conversar. Ela se arrumou, saiu e eu fiquei em casa.

Na segunda-feira (o dia seguinte) quando cheguei em casa, passei pela janela e ela estava vendo TV. Chamei e convidei para descer. A gente conversou durante um bom tempo. Apesar de burra, ela era engraçada, então valia a pena o tempo perdido.

Tarde da noite, quando nos despedimos, nos beijamos pela primeira vez, na porta do apartamento dela. Só um beijo e "boa noite".

Quando eu ia saindo ela perguntou:

- Que horas você sai de casa para trabalhar? Dá tempo de você passar aqui amanhã para me dizer bom dia?

- Me chama que eu venho.

Terça-feira a mãe dela saía de manhã para fazer faxina, e ela me chamou pela janela. Cheguei lá e ela estava vestia uma blusa/quase-vestido e calcinha. Me levou até o quarto dela e trancou a porta. Começamos a nos beijar.

Ela foi bem objetiva. Sabia o que queria e sabia como fazer.

- continua - ou não -


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