Entrei no ônibus, quase vazio. Tinha, o quê, quatro passageiros? Provavelmente isso, mesmo.
Tão poucos passageiros, tantos bancos vazios, e um dos passageiros quis ficar em pé, logo depois da roleta.
Lembrei quando eu era criança, e fiquei doente. Levei uma injeção na bunda e tive que voltar para casa em pé no ônibus, porque não conseguia sentar.
Podia ser que o passageiro também tivesse recebido algum tipo de injeção, e por isso não quisesse sentar. É direito dele, mas ele estava com uma mochila nas costas, atrapalhando quem passaria pela roleta, como eu. Pensei: "peço licença ou saio empurrando?"
Naquele dia eu não estava de bom humor. Estava indo para o trabalho, e ninguém vai para um local de tortura* com um sorriso no rosto. Decidi passar por ele como se a mochila dele não estivesse ali, como não deveria mesmo estar. Foi uma tarefa difícil, porque a mochila ESTAVA ali. Realmente estava. O menino, coitado, quase caiu, com a força que eu fiz, mas consegui passar e me sentar, como ele já deveria ter feito. Lugar, não faltava. Por que, diabos, aquele traste estava parado ali?
ELE- Ei, qual foi, cara, não viu minha mochila, não?
EU- Porra, chefe, tem como não ver? Ela tá exatamente no meio do caminho de qualquer pessoa que entre no ônibus.
ELE- E por que não pediu licença?
EU- Ah, bonito! Então você quer que todo mundo que entre no ônibus peça para você licença para passar, né? Ta carente de atenção?
ELE- Claro que não, pô, é que...
EU- É só que você não tem a MENOR idéia de como andar num ônibus, né? É fácil, filho, eu te ensino. Você tem duas opções: pôe a mochila pra frente e ninguém mais esbarra nela ou aguenta CALADO. Ah, claro, tem também a opção de você sentar o rabo num destes muitos (e são muitos!) lugares e acabar com este problema.
Problema resolvido.
* => a palavra "trabalho" é derivada da palavra "tripalium", que era um instrumento de tortura. (Wikipedia)
