segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Johnny

CAPÍTULOS

1 - Trote
2 - Sonhos
3 - Realidade
4 - A estrela
5 - No banheiro da escola...
6 - Pensamentos
7 - "Marina, morena Marina..."

Johnny

1 - Trote

Uma história começa começando, pelo começo. E essa começa assim:

O ano era 2000. O lugar, o Instituto de Educação do Rio de Janeiro (IERJ).

O IERJ tinha sido, durante muito tempo, uma escola para normalistas. Mesmo já sendo uma escola regular, ainda havia muito mais meninas do que rapazes. E em fevereiro de 2000 começaram as aulas do primeiro ano do segundo grau, e lá estava Johnny, feliz por ter tantas mulheres à sua volta. Agora ele poderia testar a técnica de Don Juan que por tanto tempo ele tinha treinado na frente do espelho.

O primeiro dia de aula começou com o diretor, no auditório, apresentando a escola aos calouros. Depois cada turma foi para sua sala e Johnny teve mais dois tempos de Geografia, com aquela professora velha com o cabelo esquisito, que usou a aula para que os alunos se conhecesssem, falando nome, idade, estas coisas. Johnny viu algumas meninas bonitas na sala, tentou gravar os nomes daquelas que pareciam mais interessantes, mas sabia que aquelas seriam mais complicadas. Muito contato podia ser prejudicial. O que mais interessava a ele eram as alunas das outras salas e, mais ainda, das outras séries.

Quando chegou a hora do recreio, ele e seus colegas tremeram um pouco, porque sabiam que levariam trote dos veteranos do terceiro ano. Com Johnny não foi diferente. Tinha sido cercado por algumas alunas do terceiro ano, e ia ser pintado com batom, quando apareceu o Robertinho, que era seu colega de infância.

- Não, esse aqui não leva trote. Esse é o meu amigo, Johnny Capado!

"Não, Robertinho, não precisava dizer o apelido! Vai me queimar!", pensou Johhny. Agora a idéia de ser pintado já não era tão ruim. Mas as meninas começaram a rir, e desistiram de pintar:

- Johnny o quê? CA-PA-DO?

Algumas mais atiradinhas foram apalpar Johnny para conferir. Ele rebolou de cá, gingou de lá, afastou algumas mãos das meninas e saiu correndo para o banheiro.

Quando chegou lá:

- Merda, merda, merda! Porra, por que Robertinho aparecer agora e falar isso! Caralho... E eu, também, piorando tudo! Correr para o banheiro? Porra, que coisa idiota! Eu devia ter dito "capado nada, confere aqui", em vez de correr como galinha.
"Mas ainda dá pra fazer isso. Virar o jogo! Sair de vítima para pré-garanhão! É exatamente isso que as meninas desta escola precisam, e é isso que eu vou dar pra elas."
"Virar o jogo. É o jeito. E tenho que começar agora. Coragem."
"Eu não vou conseguir. Nunca fiz isso. Nem sei fazer. Mas tenho que fazer. E não posso perder mais tempo."

Saiu do banheiro, barriga para dentro, peito para fora. Como queria, encontrou com as veteranas. Natalia, uma das meninas que tinha tentado apertar Johnny, provocou:

- E aí, Capado, foi ver se cresceu alguma coisa?

Todas riram e ele respondeu:

- Fui, mas não consegui ver. Quer ver pra mim?

Todo mundo parou de rir. As colegas olharam espantadas para Natalia, que não soube o que dizer. Johnny soube:

- Bom, se nenhuma de vocês tem coragem... Vou tentar com alguma do ginásio. Tchau, foi um prazer conhecer vocês.

Virou as costas para elas e saiu. Natália, que era responsável por tudo aqulo, foi atrás e puxou o braço dele:

- Calma, calouro! Qual sua idade?
- 15.
- Que pena... Muito novinho...
- Você devia saber que essa é a idade do primeiro ano.
- Grossinho, você, hein?
- ...
- Mas eu gosto disso!

E 'pá', Johnny pegou uma aluna do terceiro ano no primeiro dia de aula.

Começando tão bem, ninguém nunca mais lembrou que ele tinha aquele apelido.

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2 - Sonhos

Era para ser só um estalinho, mas Johnny mostrou atitude, abusou, e a garota não resistiu. O estalinho virou um beijo decente, com línguas se conhecendo, braços abraçando e mãos apertando e sentindo.

Natalia descobriu que Johnny não era nada capado e percebeu que o beijo estava indo longe demais. Ninguém tinha visto ainda, e ela disse para ele:

- Quem come calado, come dobrado.

Ele entendeu o recado. No dia seguinte, no recreio, quando ia para a cantina, passou pela pedra onde estavam Natalia e três amigas. Ele fingiu que não tinha visto, mas ela o chamou:

- Johnny, chega aí! Já ia passando direto sem falar com a gente?

Ele sentiu muita vergonha, mas tinha que ir. As meninas fizeram perguntas bobas para ele, enquanto Natalia não tirava o olhar do botão aberto da blusa de Johnny. Ele ficou parado, se sentindo quadruplamente devorado, enquanto respondia as perguntas. Só quando saiu dali percebeu que não estava respirando direito de tanta tensão.

Em encontros casuais, assim, ele foi conhecendo algumas pessoas do terceiro ano. Natalia e suas três amigas, que sempre estavam perto da cantina, fumando escondidas. Os rapazes do Bonde dos Cachorros (BC), as meninas que curtiam violão, o pessoal que matava aula pra fumar escondido na pista…

E ele começou a andar com os alunos do terceiro ano. Era onde estavam as meninas que lhe interessavam, mas ele não interessava muito a elas. Novinho, no meio dos mais velhos, era tratado como um mascote. Ou como um brinquedo, se olharmos por outro ângulo; principalmente por Natalia. Ele fazia 'servicinhos' para ela. Coisas simples, escolares, como comprar chocolate na cantina, e ele ganhava um pedaço. Comprava balas para ela, e ganhava uma ou duas. Pegava livros na biblioteca no nome dele, e ganhava beijos. Sempre mais de um, porque entre os dois acontecia uma boa reação química. Mas estes beijos eram sempre escondidos. Ninguém sabia e ninguém podia saber. "Quem come calado, come dobrado", como ela sempre dizia. E ele nunca respondia nada sobre realmente comer ela, e ela achava isso lindo!

Beijar Natalia de vez em quando era legal, mas ainda era muito diferente do que ele pensava que seria o segundo grau. Durante todo o ginásio ele sonhava com a época da faculdade e as suas 'universitárias safadas'. Agora, no segundo grau, eram as quase-universitárias que ele buscava. Mas elas naõ tinham nenhum interesse nos calouros. O que elas queria eram os veteranos, como os rapazes do Bonde dos Cachorros.

Johnny pediu para fazer parte do grupo, mas para apresentar o tal 'Pedido de Inclusão no Bonde' (eles tinham essa besteira), Johnny precisava pegar publicamente cinco meninas da escola. O máximo que ele conseguia era beijar Natalia às vezes, e isso ele não podia contar para ninguém. "Quem come calado, come dobrado".

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Parecia que só sobrava para Johnny a opção de ficar perto dos Cachorros, esperando para ver se sobrava alguma menininha mais feia, que nenhum deles quisesse. Mas isso não acontecia, porque as coisas eram assim:

Um dia Johnny estava na pista, conversando sobre músicas com os rapazes que tocavam violão. Apareceram duas meninas da 8ª série. Lindas, corpinhos bastante desenvolvidos... Uma delas, com um sorriso muito safado, disse para o rapaz que estava com o violão na mão:

- Posso te pedir uma coisa? Toca uma música para mim?
- Pode ser, mas o que eu ganho em troca?
- Ah, toca e descobre! Mas você vai gostar!

Ele tocou a introdução de Stairway to Heaven e a menina foi se derretendo aos poucos. Quando acabou a introdução, ele disse:

- O que eu mereço?

A garota abriu o sorriso e se aproximou dele. Pegou o violão, quase esfregando o decote no nariz do rapaz. Sentou no colo dele e os dois se beijaram.

Johnny ficou surpreso com tanta facilidade. Pensou: "também quero, também quero"! Pegou o violão que estava encostado no muro e, fazendo trilha sonora para o beijo, tocou as notas de My Heart Will Go On, que fazia enorme sucesso entre as românticas. Tocava olhando para a menina que também estava segurando vela, e ela perguntou:

- Cadê sua estrela?

Ele já tinha uma desculpa na ponta da língua, mas o rapaz parou de beijar para dizer:

- Ele é do primeiro ano e tem vergonha de usar a estrela!
- Ai, primeiro ano? - ela tinha quase nojo na voz, e falou para a colega: - Amiga, eu to indo embora.

A amiga, que tinha voltado a beijar o rapaz, se levantou e falou para ele:

- Eu também vou. Adorei a 'música'. Amanhã, na hora do meu recreio, vou passar aqui e pedir outra, tá?
- Claro!

E as meninas foram embora, e ficaram só Johnny e o rapaz que tocava violão.

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4 - A estrela

Na sala de aula, Johnny sentava perto da porta. Não era para ser o primeiro a sair. Era para poder olhar para o pátio durante as aulas mais chatas. E em uma aula de Literatura...

Sentada no pátio, olhando para cima, estava uma morena bonita, cabelos encaracolados presos como rabo-de-cavalo. Sua boca era o que mais chamava atenção no seu rosto. Grande. Um pouco acima do limite para que houvesse harmonia em seu rosto, mas era uma linda grande boca. E tudo era bonito: os cabelos, o rosto, mesmo desarmônico, o busto, as pernas, a bunda. Aquelas calças coladas que ela usava então... Era tentação demais. Ela tinha as letras "VI" bordadas na manga da camisa. Sexta série. Devia ter 12 ou 13 anos, mas agia como se fosse adulta.

Ela estava sentada e olhando para cima, na direção de Johnny. Mas não era para ele. Era para algum garanhão do terceiro ano, no andar de cima. Não foi para Johnny que ela se sentou de frente e abriu as pernas, tentando mostrar... Talvez o puído da região, mas ainda assim bastante insinuante. Johnny adorou ver, mas não foi para ele que ela abriu o botão superior da blusa e mostrou um pedaço do porta-seios, cor-de-pele, cor adulta.

Foi demais. Triste, desiludido, perto de chorar, ele saiu da sala e foi para a pista, onde certamente tinha gente matando aula.

Lá ele encontrou Natalia, que logo pediu para ele voltar e ir à cantina comprar balas para ela. Bem diferente do que seria esperado, ele disse:

- Ah, Natalia... Vou não.

Ela percebeu que alguma coisa tinha acontecido. Perguntou o que era, e ele foi sincero. Queria ser do terceiro ano para poder fazer sucesso com as meninas, e não tinha paciência de esperar mais dois anos e só poder aproveitar por um ano.

- Johnny, você é um cara legal. Por isso eu vou te dar duas coisas que vão te ajudar muito. Primeiro: você já fumou?
- Não.
- Dá um trago nesse cigarro aqui.

Era um Hollywood vermelho sem filtro, mas Johnny não sabia o que isso significava. Puxou, tragou e tossiu muito! Ela riu:

- Pronto, tá quase virando um veterano. Põe esse maço aqui no bolso, para todo mundo ver. Você vai chegar perto das meninas, elas vão ver que você fuma e vão pensar que você é mais velho, mais independente e mais maduro. Agora só falta uma coisa.

Natalia tirou a estrela do terceiro ano da sua blusa e pregou na blusa de Johnny. Era uma cena bonita, e deveria ter sido fotografada. Parecia uma cerimônia de formatura. Ele em pé, rígido, quase perfilado, e ela se demorando em alfinetar a estrela na blusa dele. Era um momento romântico, até. Ela fazia questão de pesar as mãos no peito dele, sentindo o pobre coração do rapaz bater rapidíssimo. Ah, os adolescentes!

E no fim da 'cerimônia', quando ele já se sentia um lado do corpo mais pesado do que o outro, ela deu um beijo-selinho nele. Na frente de todo mundo!

Suas colegas viram o beijo mas não ligaram. Pensaram materialmente:

- E agora, você vai ter que comprar outra estrela!

- Valeu a pena. Nunca tinha visto um sorriso tão bonito como aquele! Nem quando meu namorado tirou minha virgindade.

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