sábado, 26 de novembro de 2011

Fragmentos

CENÁRIO: Uma rua residencial de um bairro tranquilo da zona norte do Rio de Janeiro. Crianças brincando, vizinhos sentados conversando. Alguns homens bebem em pé no balcão de um bar ou na janela de uma casa; difícil definir. Uma casa toca samba e faz churrasco.

Na casa do lado, um casal discute. A briga já dura algumas horas. Ninguém dá muita atenção. Só quando algum trecho da discussão é mais interessante, como:

ELE - Todo mundo já sabe que você tá dando pr'aquele seu coleguinha que te trouxe pra casa aquele dia. Eu não sei por que ainda não enfiei a mão nessa sua cara, sua piranha.

ELA - Você não mete porque não tem culhão pra isso, seu filho da puta!

Então a vizinhança gritava "corno" e "broxa". O pessoal que dizia 'corno' marcava o tempo e o pessoal que dizia 'broxa' marcava o contratempo, no ritmo da música que tocava no churrasco. Fora isso, ninguém prestava atenção. Cagavam e andavam.

Outro momento de interesse foi quando, de repente, os vizinhos tiveram um susto com uma massa preta voando de dentro da casa e se espatifando na calçada. Preocupadas, curiosas e tentando se proteger d'algum novo disparo, algumas crianças foram ver o que tinha sido jogado. E de lá gritaram:

- É um celular!

Uma, mais nerdzinha, detalhou:

- Um chinês de quatro chips!

E de dentro da casa:

ELA - O quê você fez?

ELE - Joguei aquela porra fora. Se alguém quiser, que ligue aqui pra casa. E a partir de hoje, só eu atendo telefone aqui.

ELA - Você fez o quê?

ELE (gritando) - Joguei aquela merda de celular fora, sua velha surda! Entendeu agora? Quer quatro chips pra quê? Pra falar com todo mundo e poder dar pra mais gente?

Um barulho no quintal da casa. Os dois vão olhar, e algum vizinho tinha jogado o celular de volta para a casa. Com os muros altos, não dava para ver quem tinha sido. Ela pegou o celular, foi até o portão.

ELA (gritando) - Quem fez esta porra?

Ninguém respondeu nada. Quando ela tentou voltar para casa, o portão tinha sido fechado. Do lado de dentro, ele ria:

ELE (gritando) - Pula o muro pra entrar, sua vagabunda! Já sabe pular a cerca, agora pula o muro, vadia, piranha! Se não eu vou queimar todas as suas roupas!

ELA (gritando) - Eu vou chamar a polícia!

Ela foi até a vizinha do lado e pediu para usar o telefone.

- continua -

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