terça-feira, 17 de julho de 2012

Johnny 7 - "Marina, morena Marina..."

Aquele era um dos primeiros dias do ano letivo, e ainda não havia aulas, exatamente. Os professores ainda estavam se apresentando para as turmas e pediam para que cada aluno se apresentasse também. As cadeiras estavam arrumadas em círculo, para que todos pudessem ver todos.

Na cadeira ao lado da professora sentou-se uma menina. O que chamou a atenção de Johnny foi o elástico rosa que ela usava para prender o cabelo em rabo-de-cavalo. Enquanto a moda era o prendedor em forma de bico-de-pato, aquela menina usava um acessório diferente, original. Talvez tenha sido este detalhe simples que prendeu o olhar de Johnny. Ele analisava atentamente sua nova colega de turma enquanto os alunos se apresentavam.

Ela não era aquele tipo de mulher que chama a atenção de todos os homens quando passa na rua. Sua pele era muito branca e seu rosto arredondado. Um pouco redondo demais, e marcado de espinhas vermelhas. Os hormônios da adolescência estavam sendo cruéis com ela. "Já combinamos nisso!", Johnny pensou.

A blusa do uniforme dela menina estava com todos os botões fechados, o que indicava que ela não era uma das safadinhas da escola. Pelo menos não descaradamente. Em vez da tradicional e sensual mini-saia colegial, ela usava calça comprida, mas não colada, como as outras. A calça só marcava o quadril, que já era avantajado, deixando o resto do trabalho para a imaginação de Johnny, que começou a perceber que por baixo daquele uniforme comportado havia um corpo bem atraente!

Completando o conjunto, como 90% das alunas, ela calçava sapatilhas de boneca, e isso não ajudava Johnny a definir quem era aquela menina que tinha chamado tanto sua atenção. Enquanto ele pensava nisso, chegou a vez dela de se apresentar:

- Oi, eu sou Marina e tenho 15 anos, como a maioria aqui, né? E eu também sou nova na escola, igual todo mundo. E quando eu crescer eu quero ser pintora, igual minha mãe.

Enquanto os colegas riam da profissão que ela escolheu, Johnny olhou para as mãos dela. Pareciam mãos macias e delicadas, ideal para quem quer usá-las para criar arte. Ou fazer carinho. Este foi o gatilho para que sua imaginação voasse descontroladamente até imaginar uma cena com ele e ela sentados nas areias da praia, olhando o pôr-do-sol e fazendo carinho um no outro.

Os olhos de Johnny estavam na direção de Marina, mas ele não prestava atenção ao que os olhos viam. Estava concentrado na imagem que a mente criava, e às vezes direcionava a atenção para Marina, apenas para colher mais alguns detalhes para construir a história na sua imaginação.

Olhava para os lábios grossos da menina branca, e sonhava com beijos delicados e carinhosos enquanto andavam, talvez um beijo apaixonado no meio da faixa de pedestres, durante um sinal fechado. Será que ela gostaria desta mistura de exibição e adrenalina? Levantou o olhar e procurou a resposta nos olhos castanhos dela. E ela estava olhando para ele! Ele desviou o olhar e correu os olhos pela roda de colegas, para saber se alguém tinha percebido, e descobriu que absolutamente todos os alunos estavam olhando para ele. "Será que eu pensei alto e acabei falando alguma coisa?" Seu último olhar, já desesperado, foi para a professora, que também estava olhando para ele. A mestre percebeu que só agora tinha a atenção do aluno e repetiu o que tinha acabado de dizer:

- Então, meu querido, agora é a sua vez de falar. Está tudo bem com você?

Mais um momento de tensão, mas Johnny se lembrou do seu grande triunfo recente, quando decidiu enfrentar a situação em vez de tentar fugir. Respirou fundo e, mesmo sentindo todos os seus músculos se agitarem, e percebendo toda a sua tensão, respondeu:

- Desculpa, professora. Eu tava pensando no que a... Marina falou. Sobre ser pintora. Acabei de descobrir o quê quero ser quando crescer: quero ser modelo para a pintora Marina!

Alguns alunos assoviaram 'fiu-fiu', outros gargalharam, e quase todos, inclusive Johnny, sorriram. Marina foi a única que não sorriu; estava tímida e surpresa, com o rosto mais vermelho do que o normal. A professora olhava para Johnny e para Marina, procurando alguma explicação. Johnny piscou um olho para Marina e completou, para a professora:

- Não, não, tô brincando, mas eu acho artes plásticas muito legal. Queria ter talento para isso. Pintar, desenhar, esculpir... Ou beleza para ser modelo, mas... Acho que no fim das contas vou acabar sendo professor, mesmo.

Johnny sorriu, achando graça de sua própria resposta. Achava que tinha se saído bem. Realmente queria ser professor e em vez de simplesmente dizer isso, deu uma indireta para Alexandra. Estava tão preocupado com essa tarefa que não percebeu que valorizando Alexandra, desvalorizou a profissão da professora. Só percebeu isso quando notou o olhar furioso e ofendido da professora. Quando percebeu, e entendeu a besteira que tinha feito, não se preocupou. Ele conseguiria passar de ano, mesmo que a professora não gostasse dele. O que realmente importava naquele momento era preparar o terreno, lançar as primeiras sementes.

Letra: Every Rose has it's thorns

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